Gabriel começou à descer a montanha, haviam muitas árvores naquele lugar e as nuvens ao longe anunciavam uma tempestade que se aproximava, a mesma de onde saíra para atacar aquele lugar. Nem precisou procurar muito para ver as explosões e mísseis em meio às nuvens, sem contato por rádio, temia que pudessem achar que estava morto e nem iriam sequer resgatá-lo por causa do constante perigo no território hostil, ele estava sozinho atrás das linhas inimigas.
Andou por muito tempo, chegou ao pé da montanha e continuou seu caminho para qualquer lugar, talvez por umas duas horas. Ouviu sons de veículos se aproximando, correu na direção do som e se agachou atrás de um tronco de árvore no chão. Veículos militares boravianos passavam apressados pela estrada, soldados corriam com seus fuzis, fugindo do ataque por terra iniciado pelos narkovianos, mesmo que os soldados narkovianos estivessem em menor número, eles contavam com apoio aéreo, bombardeando as tropas locais.
Depois que o comboio inimigo se afastou, Gabriel se levantou e atravessou a estrada, havia um carro civil abandonado ali no acostamento, abriu a porta e entrou. Percebeu que estava sem combustível e havia marcas de tiros no pára-brisa. Um relâmpago iluminou tudo em volta e começou-se à cair a forte chuva. Gabriel deitou-se no chão do carro, ao lado do banco traseiro e ficou ali, no único abrigo que pôde arranjar.
* * *
30 de Setembro de 2017, em algum lugar do litoral da Borávia. 11:26
Seus olhos se abriram imediatamente ao ouvir a explosão. Se levantou do chão frio e espiou pela janela do carro a estrada ao redor, já estava dia e se assustou com o que via: um extenso comboio de tanques de guerra e baterias anti-aéreas móveis estava vindo na direção de Gabriel. Ele se deslocou até a porta direita do passageiro e saiu silenciosamente, ficou encostado no veículo enquanto os tanques inimigos passavam do outro lado. Pensou em uma forma de se defender caso fosse descoberto, assim pegou sua pistola M1911 pessoal e a TT-33, dada aos pilotos pela Força Aérea.
Segurando as duas pistolas, esperou os veículos irem embora, mas algo aconteceu.
- Soldado inimigo! Atrás do carro! Atirem!
Uma tempestade de tiros começou, furando a lataria esquerda do carro e quebrando o vidro das janelas, Gabriel se encolheu ainda mais, quando menos esperava, ouviu um barulho metálico ao seu lado. Ao olhar para o chão, viu uma granada jogada ali, no desespero, Gabriel pegou-a e jogou-a devolta para os inimigos, sentiu uma sensação extremamente quente no braço, se agachou no carro e houve uma forte explosão.
Gabriel sentia-se surdo, agora apenas ouvia um zumbido. Pegou uma das pistolas no chão e se levantou, saindo em disparada para a floresta, enquanto corria podia ver os tiros atingindo os troncos das árvores ao seu redor, continuou correndo sem parar, sua audição foi voltando aos poucos, o pensamento em sua cabeça era a de que iria morrer, era um enorme comboio com muitos soldados e armas, não teria como escapar... Até olhar para cima.
Dois caças passaram em altitude baixa despejando duas bombas brancas, quando ambas tocaram na estrada, uma onda de fogo tomou conta de tudo, matando todo ser vivo ao longo da estrada, Gabriel imediatamente identificou as bombas como sendo napalms. Napalm era uma substância inflamável presente em uma bomba incendiária extremamente mortal, queimando tudo que atingisse a temperaturas absurdamente altas.
O fogo começou à se espalhar ao redor, Gabriel logo se levantou e voltou à correr, viu uma cerca de madeira logo à frente e passou por ela. Ouviu um som e olhou para cima, um F-15 narkoviano com uma das asas destruída, girava em direção ao chão até cair atrás de algumas árvores logo à frente, perto de uma casa. Gabriel se lembrou que Alicia pilotava um F-15, então saiu correndo em direção à fumaça negra que se levantava no horizonte.
- Merda! - Gritava ele enquanto corria.
Quando chegou lá, havia uma cratera no solo, a fuselagem queimada do avião estava inclinada para o alto, o cockpit havia sido totalmente destruído, mas percebeu que não havia sinal de um piloto. Olhou para o céu e viu um pára-quedas descendo até cair de forma um pouco violenta ali perto, correu até lá para ver, ao tirar o pára-quedas do piloto, viu um grande pedaço de metal atravessando o peito, tirou o capacete e se aliviou por não ser Alicia nem outro conhecido. Porém, o piloto estava morto.
Gabriel pegou a pistola TT-33 do piloto, já que deixara a sua no tiroteio, sendo destruída pela napalm. Agora novamente estava com duas pistola, sua M1911 e a Tokarev, revistou mais um pouco o corpo e o rádio estava inútil, foi destruído quando o metal atingiu o peito do homem.
Se lembrou da casa logo ali perto, decidiu procurar abrigo lá, ao se aproximar dela, percebeu uma viatura da polícia parada na frente da casa. Gabriel pegou sua M1911 e entrou na casa apontando sua pistola para todas as direções, para a sua surpresa, não encontrou ninguém. Decidiu checar a viatura mais uma vez e viu que ela estava sem gasolina e ainda havia duas espingardas no porta-malas, pegou-as e levou-as em direção à casa.
Minutos se passaram, Gabriel colocava as espingardas em uma mesa e de repente parou quando percebeu uma música tocando em algum lugar ali perto, parecia tão perto que jurou que vinha daquela mesma sala. A música continuava tocando até ouvir sons de algo batendo em uma porta de madeira, como se alguém estivesse se depatendo atrás de uma porta. A música parou.
Gabriel pegou sua pistola e caminhou até uma pequena porta de madeira debaixo da escada e abriu-a, se deparou com uma garota de cabelos loiros, aparentava ter entre dezessete à vinte anos, estava sentada segurando um celular, seus olhos azuis estavam paralisados de medo.
- Você está bem? Qual é o seu nome? - Perguntou ele, escondendo a pistola.
Ela não respondeu, continuava parada, mas de repente pegou uma pistola e a apontou para Gabriel. A primeira reação seria pegar a sua pistola também, mas lembrou que ela era apenas uma garota assustada, olhou mais um pouco para a arma que tremia nas mãos pálidas da garota e notou algo, sorriu.
- Sa-saia da minha casa! - Exigiu ela.
Gabriel simplesmente caminhou até ela, ela puxou o gatilho e fechou os olhos, mas apenas sentiu a arma sendo puxada violentamente. Quando abriu seus olhos, o homem vestido com aquela roupa de piloto estava com sua arma nas mãos, sorrindo.
- Fique calma, não vou te machucar. - Disse ele, ela ficou confusa já que a pistola não disparou. - Está vendo esta luzinha vermelha aqui? Você tem que virar isto aqui, é uma trava de segurança, é usada para evitar que a pistola atire acidentalmente... Aliás, onde você pegou isto?
A garota ficou em silêncio por alguns segundos, pensando se o homem era confiável ou não, por fim, respondeu.
- Do carro da polícia... Ali fora.
- Onde está sua família? Por que tem um carro da polícia lá fora? - Perguntou Gabriel.
- Meus pais foram levados à força pelo exército por causa de uma evacuação, um policial veio me buscar, mas... Um soldado atirou nele.
- Uma evacuação?
- Sim, haviam aqueles homens com máscaras de gás...
Gabriel caminhou até a porta e correu pela estrada de terra até chegar à um Humvee militar, o soldado estava morto com um tiro no peito, provavelmente na troca de tiros com o policial da viatura ao lado da casa, Gabriel entrou no veículo e ligou o rádio, tudo o que ouviu foi:
"Aqui é Delta 3, assim que os inimigos ultrapassarem a linha vermelha, iniciaremos o protocolo C4H10FO2P"
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